Mas o que garante o mesmo cruzar de pernas durante 50 anos? As mesmas piscadelas. As formas de se ajeitar o cabelo. Os mesmo ídolos. Os mesmos maneirismos?
Somos a cópia do que achamos ser nós mesmos e – pasmem – a cópia sempre sai errada. Nesse erro nos constituímos humanos, animais com a estranha mania de tentar quantificar o acaso, e vendê-lo.
Vender e comprar – resumo bom do novo homem sem ídolos nem verdades predefinidas. Não queríamos a liberdade? Aí está... servida em grandes banquetes midiáticos nas escolas, igrejas, supermercados, outdoors, tudo bem televisionado e digitalizado. Ao alcance de ávidos dedos e olhos que, não satisfeitos com a condição de corpo, estenderam seus limites ao código transmitido por impulsos magnéticos. Mas para quê?
Vender e comprar - Nosso tempo (mercadoria preciosa negociada entre grandes conglomerados comerciais) não pertence mais a um Estado, a um exército ou a um burguês gordo dono de alguma fábrica têxtil... pertence a ninguém menos que o MERCADO. Entidade sem cor, nome ou telefone que você não vai conseguir acertar com um molotov.
É com certo pesar que observo as bandeiras vermelhas hasteadas e os gritos “apaixonados” por um Novo mundo... uma Nova Escola...uma Nova Economia... etc. O novo não é mais nossa questão. Nosso maior desafio e contaminar redes alheias com nossas existências tortas. Afinal nunca foi o homem quem criou o tal Novo... o acaso cria o novo.
Vender e comprar – fórmula simples e irredutível. Faremos nosso grito ser vendido e consumido como mais uma marca de jeans. Molecularidade de ação. Quer algo mais molecular para o homem contemporâneo do que vender e comprar? Contaminaremos esse jogo a partir do número de visitas em nossos vídeos postados em podcasts... ou nos nossos blogs, Flogs, Fóruns, Coletivos virtuais. Se o império e a tal dominação usam de artifícios desterritorializados para acessar o que temos de mais recôndito nas nossas medíocres vidas, porque não resistir com as mesmas armas?
E a Tv? Esse totem da subjetividade contemporânea massificada. Berço e palco da sociedade espetacularizada. Não sei! Mas sei que somos as carinhas doces e pervertidas das apresentadoras louras de programas infantis. Amamos como nos filmes bobos da sessão da tarde. Nossa moral não vem mais dos vultos ou das doutrinas, mas dos cabelos bem penteados e os sorrisos de creme dental. Nossa subjetivação é midiática.
Como subverter? Causando. Criando o fato com alto poder midiático, mas que em si carrega a subversão a esse modelo.
Mas cuidado... não acreditem que basta poder desbloquear o celular para ser um homem livre. Afinal... você ainda tem um celular.
Retratos escritos
Há 9 anos