quinta-feira, 18 de setembro de 2008

NOITE DE BRAHMA!


O que é essa experiência tosca de "eu" senão o emaranhado de frases pela metade... músicas assobiadas despretensiosamente... Sermões a esmo em bocas a esmo? Somos a sensação sempre incompleta de unidade. Mas como unidade se incompleto? Há pequenos buracos de fechadura formando isso que chamamos eu de onde jorram fluxos descontínuos de toda sorte de comportamento. Afinal... somos imprevisíveis.


Mas o que garante o mesmo cruzar de pernas durante 50 anos? As mesmas piscadelas. As formas de se ajeitar o cabelo. Os mesmo ídolos. Os mesmos maneirismos?

Somos a cópia do que achamos ser nós mesmos e – pasmem – a cópia sempre sai errada. Nesse erro nos constituímos humanos, animais com a estranha mania de tentar quantificar o acaso, e vendê-lo.

Vender e comprar – resumo bom do novo homem sem ídolos nem verdades predefinidas. Não queríamos a liberdade? Aí está... servida em grandes banquetes midiáticos nas escolas, igrejas, supermercados, outdoors, tudo bem televisionado e digitalizado. Ao alcance de ávidos dedos e olhos que, não satisfeitos com a condição de corpo, estenderam seus limites ao código transmitido por impulsos magnéticos. Mas para quê?

Vender e comprar - Nosso tempo (mercadoria preciosa negociada entre grandes conglomerados comerciais) não pertence mais a um Estado, a um exército ou a um burguês gordo dono de alguma fábrica têxtil... pertence a ninguém menos que o MERCADO. Entidade sem cor, nome ou telefone que você não vai conseguir acertar com um molotov.

É com certo pesar que observo as bandeiras vermelhas hasteadas e os gritos “apaixonados” por um Novo mundo... uma Nova Escola...uma Nova Economia... etc. O novo não é mais nossa questão. Nosso maior desafio e contaminar redes alheias com nossas existências tortas. Afinal nunca foi o homem quem criou o tal Novo... o acaso cria o novo.

Vender e comprar – fórmula simples e irredutível. Faremos nosso grito ser vendido e consumido como mais uma marca de jeans. Molecularidade de ação. Quer algo mais molecular para o homem contemporâneo do que vender e comprar? Contaminaremos esse jogo a partir do número de visitas em nossos vídeos postados em podcasts... ou nos nossos blogs, Flogs, Fóruns, Coletivos virtuais. Se o império e a tal dominação usam de artifícios desterritorializados para acessar o que temos de mais recôndito nas nossas medíocres vidas, porque não resistir com as mesmas armas?

E a Tv? Esse totem da subjetividade contemporânea massificada. Berço e palco da sociedade espetacularizada. Não sei! Mas sei que somos as carinhas doces e pervertidas das apresentadoras louras de programas infantis. Amamos como nos filmes bobos da sessão da tarde. Nossa moral não vem mais dos vultos ou das doutrinas, mas dos cabelos bem penteados e os sorrisos de creme dental. Nossa subjetivação é midiática.

Como subverter? Causando. Criando o fato com alto poder midiático, mas que em si carrega a subversão a esse modelo.

Mas cuidado... não acreditem que basta poder desbloquear o celular para ser um homem livre. Afinal... você ainda tem um celular.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Por esses uns lugares



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O que se passa no momento ônibus lotado fotografado pelas retinas de alguém que espera no ponto? Como o acaso conforma e coloca todos aqueles pensamentos e histórias em entre-curso?

Ando dormindo em ônibus. Não carrego estampa, bandeira, estandarte, ou palavras tatuadas em minha couraça já tatuada com as cicatrizes do caminho. Sou a estampa do meu delírio. Mas, incrivelmente, me sinto em casa e ao lado de estranhos, pelo simples fato do acaso me colocar em um ônibus com uma porção de pessoas sem motivo algum para estarem juntas.

Sinto-me entre amigos entre estranhos. Meu ninho é a sorte de determinações aleatórias em que me sinto repousando sobre a sobriedade do anonimato.

Quantas paixões um ônibus carrega? 40 e tantas sentadas e 30 e poucas em pé?! Quantos partidas... chegadas... inícios... rompimentos? eu sozinho carrego o peso das horas demasiadas humanas em curso com cursos alheios. Sou alheio e isso me transforma ciente.

Mas está chegando meu ponto. Como me despedir dessas pessoas que velaram tão afetuosamente meu sono, e me deram a tranqüilidade de estar entre companheiros de verdade? O fato de não termos motivos de ódio ou de amor a priori, nos transforma imediatamente em companheiros. Qual a relação que criamos com quem coexiste conosco onde dormimos?

Sinto da falta de paixões recentes, amores antigos e companheiros mortos. Sinto desejo de novas peles e de olhares que nunca vi. Peço ao Universo a verdade e a luz, e um tanto de passionalidade. Sou o suspiro de uma geração sem amores reais, mas carrego pregado em minhas costas a marca da doçura do afeto descompromissado.

No cansaço de procurar colos personificados, encontrei o colo onde só há o chão e vou sorvendo o líquido doce da madrugada. Provo a doçura da perversidade alheia e sigo a me refestelar com o fracasso inerente a existir.

Aceitei a insígnia de traço torto nas linhas já escritas tortas. Mas também... Não me contento em amar só uma Maria, em respeitar inevitavelmente um José qualquer... e etc.
Quero o amor pulso cortante que não respeita designações retilíneas.

AH universo! Te dou em troca meu descontrole.

Ademais é hora de descer sem me despedir, afinal cheguei sem me apresentar.

Real diluído. (ou chega de real)

O corpúsculo dos ídolos



Qual rosto iremos esculpir no busto de nossos ídolos?

Talvez um deus morto pateticamente crucificado... ou qualquer sossego exasperado de artistas falidos.

Vultos de uma humanidade carente de humanismo?
Empresários, padres, deuses ou demônios?

Há algo errado nessa fotografia do pós-futuro
Há qualquer desencanto enobrecido
Há uma lágrima seca há tempos no canto de nossos olhos
Há várias notas erradas no canto de nossas verdades.


Mas... Qual rosto iremos esculpir mesmo?

Talvez o mais do mesmo...
Particularmente
Prefiro o mesmo e um pouco mais.

Já sei... talvez uma grande Vagina
Em forma de tempo.

No nosso caso
Ela seria seca
Frígida
Gelada como nosso ímpeto petulante de estar fora da história.

Há algo errado na minha fotografia da fotografia do Ultra-passado
Talvez sejamos nós o eterno que já durou
O samba sem refrão
A possibilidade de qualquer coisa
Que acaba sendo coisa alguma.

Já sei!

Vou esculpir a discórdia em tons niilistas de quem não tem um porto
E mantém a deriva como condição única de existência
A discórdia de cara gorda
Bem alimentada
Barba bem aparada
Expressão de uma serenidade conflituosa
E a certeza de que já vai tarde...