quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Por esses uns lugares



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O que se passa no momento ônibus lotado fotografado pelas retinas de alguém que espera no ponto? Como o acaso conforma e coloca todos aqueles pensamentos e histórias em entre-curso?

Ando dormindo em ônibus. Não carrego estampa, bandeira, estandarte, ou palavras tatuadas em minha couraça já tatuada com as cicatrizes do caminho. Sou a estampa do meu delírio. Mas, incrivelmente, me sinto em casa e ao lado de estranhos, pelo simples fato do acaso me colocar em um ônibus com uma porção de pessoas sem motivo algum para estarem juntas.

Sinto-me entre amigos entre estranhos. Meu ninho é a sorte de determinações aleatórias em que me sinto repousando sobre a sobriedade do anonimato.

Quantas paixões um ônibus carrega? 40 e tantas sentadas e 30 e poucas em pé?! Quantos partidas... chegadas... inícios... rompimentos? eu sozinho carrego o peso das horas demasiadas humanas em curso com cursos alheios. Sou alheio e isso me transforma ciente.

Mas está chegando meu ponto. Como me despedir dessas pessoas que velaram tão afetuosamente meu sono, e me deram a tranqüilidade de estar entre companheiros de verdade? O fato de não termos motivos de ódio ou de amor a priori, nos transforma imediatamente em companheiros. Qual a relação que criamos com quem coexiste conosco onde dormimos?

Sinto da falta de paixões recentes, amores antigos e companheiros mortos. Sinto desejo de novas peles e de olhares que nunca vi. Peço ao Universo a verdade e a luz, e um tanto de passionalidade. Sou o suspiro de uma geração sem amores reais, mas carrego pregado em minhas costas a marca da doçura do afeto descompromissado.

No cansaço de procurar colos personificados, encontrei o colo onde só há o chão e vou sorvendo o líquido doce da madrugada. Provo a doçura da perversidade alheia e sigo a me refestelar com o fracasso inerente a existir.

Aceitei a insígnia de traço torto nas linhas já escritas tortas. Mas também... Não me contento em amar só uma Maria, em respeitar inevitavelmente um José qualquer... e etc.
Quero o amor pulso cortante que não respeita designações retilíneas.

AH universo! Te dou em troca meu descontrole.

Ademais é hora de descer sem me despedir, afinal cheguei sem me apresentar.

2 comentários:

DonaCarolina disse...

essas são palavras somente suas, de mais ninguém, por isso mesmo, é o que eu chamo de texto pronto: escrita sem medos, sem culpas, sem omissões. que mais se pode pedir da composição em palavras? que não seja dizerem tudo o que estão ali pra dizer?? aqui está dito. e quando assim acontece, o que só você poderia dizer toma consistência real e toca no outro. consuma-se o fato: deixa de te caber.

Unknown disse...

Muito massa mano, to com uma heinekem e goiaba curtindo a literatura :D bassman dus inferno